sábado, 3 de março de 2012

Começa a desocupação para Belo Monte! Mais um show de horror para contemplar!

Imagem meramente ilustrativa
Eu poderia escrever aqui por horas a fio, tentando demonstrar minha indignação e revolta, mas não é necessário, o texto abaixo, retirado da página Realidade Imunda no Facebook dispensa qualquer adição:

Exemplos infelizes como a construção das usinas hidrelétricas de Tucuruí (PA) e Balbina (AM), as últimas construídas na Amazônia, nas décadas de 1970 e 1980, estão aí de prova. Desalojaram comunidades, inundaram enormes extensões de terra e destruíram a fauna e flora daquelas regiões. Balbina, a 146 quilômetros de Manaus, significou a inundação da reserva indígena Waimiri-Atroari, mortandade de peixes, escassez de alimentos e fome para as populações locais. A contrapartida, que era o abastecimento de energia elétrica da população local, não foi cumprida. O desastre foi tal que, em 1989, o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), depois de analisar a situação do Rio Uatumã, onde a hidrelétrica fora construída, concluiu por sua morte biológica. Em Tucuruí não foi muito diferente. Quase dez mil famílias ficaram sem suas terras, entre indígenas e ribeirinhos. Diante desse quadro, em relação à Belo Monte, é preciso questionar a forma anti-democrática como o projeto vinha sendo conduzido, a relação custo-benefício da obra, o destino da energia a ser produzida e a inexistência de uma política energética para o país que privilegie energias alternativas.

Ao amanhecer, o patrão disparou contra o líder da aldeia e começou o tiroteio. “A floresta tremeu” e os índios fugiram, deixando seus mortos. Apenas uma menina ficou. Cravou os dentes com tanta força no peito de um atacante que precisou ser degolada.

Cinco décadas depois, Benedito dos Santos recorda as batalhas das quais participou como um dos seringueiros que invadiram, desde o final do Século XIX, as florestas da Bacia do Rio Xingu, na Amazônia oriental, enfrentando a resistência de alguns grupos indígenas e convivendo e se misturando com outros.

Aos 67 anos, com 23 filhos dos 26 que teve com 14 mulheres, “Bião”, como é conhecido, trabalha de barqueiro na empresa familiar que tem, com oito embarcações e um atracadouro no centro de Altamira, a principal cidade às margens do Xingu, com cerca de cem mil habitantes. Ele viveu todos os ciclos da economia extrativista desta Bacia, desde que chegou, antes de completar cinco anos, com sua mãe já viúva e três irmãos menores, procedentes do Rio Moju, 350 quilômetros a leste, também no Estado do Pará, no Norte do Brasil.

Diante das transformações que serão causadas pela hidrelétrica de Belo Monte (que represará o Rio Xingu em dois pontos, inundando ilhas, florestas e terras agrícolas), Bião diz estar “neutro”. A decisão é dos poderosos, não importa a controvérsia entre defensores e opositores da obra, afirma. Só espera que seja gerada renda para a população local carente de emprego, e reconhece que já não tem o protagonismo de antes, quando dependia da natureza para sobreviver.

“Fui criado com leite de pau”, brinca para ressaltar que em criança aprendeu a tirar o látex da seringueira, além de ajudar a mãe e o padrasto na agricultura. Virou seringueiro com 14 anos, se embrenhando nas florestas do Médio Xingu com três grupos, quando já esperava seu primeiro filho, após ter se dedicado a colher castanhas.

Aquele ataque à aldeia foi resposta a sucessivos assassinatos de seringueiros, cometidos por índios que, dessa forma, conseguiam armas de fogo, afirma Bião. “Só no grupo do Isaac, mataram mais de 40”, assegura. Mas a matança era recíproca. Os brancos acrescentavam um rito macabro: enfiavam “pedras no bucho” dos cadáveres para escondê-los no fundo do rio e evitar a repressão do Serviço de Proteção ao Índio.

Bião sentia cada vez mais medo, inclusive pelas disputas internas. Uma tarde, começou um tiroteio entre os seringueiros do acampamento, com vários mortos. Ele evitava conflitos e desfrutava da proteção de seus patrões por sua habilidade para caçar, que o fez fornecedor de carne e pescado para seus companheiros.

No cerco à aldeia indígena, após nove dias de marcha durante a qual desertaram dez dos 35 homens mobilizados, o chefe o colocou “atrás de um tronco de embaúba, tão fino que não aguentaria as balas”, recorda. Atemorizado, passou a noite toda cavando um buraco usando “as unhas como enxada”.

O medo e o barulho do tiroteio fizeram com que muitos homens desperdiçassem munição. Substituíam cartuchos intactos, convencidos de que haviam disparado, conta Bião. Vários índios morreram e apenas dois seringueiros ficaram feridos, recorda. A aldeia foi incendiada. Depois de nove anos no seringal e já com quatro filhos, voltou à “boa vida” de Altamira. Além de perigosa, a atividade tinha pouco futuro.

A Amazônia brasileira, que enriqueceu com a extração de borracha no final do Século XIX e começo do XX, a partir de 1920 perdeu o domínio do mercado mundial para a Malásia, onde as plantações de seringueiras (Hevea brasiliensis) alcançaram rendimentos maiores.

Bião e seus companheiros se beneficiaram dos bons preços do pós-guerra, mas o Brasil já havia caído para exportador secundário, dependente de subsídios e eventuais bolhas de demanda, como por ocasião da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), quando o Japão bloqueou as exportações do sudeste asiático.

A “caça do gato” (onça), e de outros animais de couro apreciados no mercado, passou de atividade intermitente a principal fonte de renda para Bião. “Foi quando ganhei mais dinheiro”, suficiente para comprar terrenos na cidade, disse. “Uma noite matei 30 jacarés, mas, eu e dois companheiros, não conseguimos tirar o couro de todos. Dá muito trabalho”, contou. Agora, restam poucos desses animais nas proximidades de Altamira, porque “as pessoas os matam para comer”, mas continuam abundantes nas lagoas do Alto Xingu, acrescentou. Em 1967, uma lei proibindo a caça restringiu a atividade, embora sua vigência na Amazônia seja relativa.

Bião também participou da construção da malograda rodovia Transamazônica, iniciada em 1970. Dedicou um ano a derrubar floresta para dar lugar ao projeto de três mil quilômetros de extensão, destinado a unir o Nordeste à Amazônia. A estrada, sem asfalto, é quase intransitável nos trechos que servem Altamira. A obra atraiu uma nova onda migratória para a Amazônia, estimulada por promessas e distribuição de terras a camponeses.

Aparecida Moraes é filha desse processo. Nasceu em 1971, um ano após sua família chegar do Estado do Paraná, no Sul, “buscando terras”, e acabou assentada na margem direita do Rio Xingu. Hoje, casada com outro migrante do Paraná, vende banana, papaia e cereais na Feira do Produtor, no centro de Altamira. Suas terras não serão inundadas por Belo Monte.

Esta sorte não terá Sebastião de Castro Silva, de 60 anos e oito filhos, que cultiva cacau e cereais nos cem hectares que obteve após chegar à Amazônia em 1977, procedente de Goiás. “Vou embora da Amazônia se construírem a represa”, pois vai inundar 40% de sua propriedade, impedindo de “manter juntos” seus 32 familiares.

Enquanto ocorria esta invasão camponesa do Médio e Baixo Xingu, na década de 70, Bião dedicou-se ao garimpo. Foi à Venezuela em busca de diamantes, mas logo foi detido e deportado, junto com outros garimpeiros brasileiros. Descobriu ouro em Ressaca, perto de Altamira, em uma mina onde ainda trabalham alguns de seus descendentes, e esteve por vários garimpos, até escolher um no alto da Bacia do Rio Tapajós, paralelo ao Xingu, mais de mil quilômetros ao sul de Altamira, no central Estado do Mato Grosso.

“No garimpo se ganha muito, mas também se perde muito, inclusive a vergonha, entre bebidas e putas”, lamenta Bião. Por 18 anos, até 2002, Bião explorou vários barrancos (áreas de garimpo) e um prostíbulo, mas também trabalhou para uma madeireira, a Marajoara. A extração ilegal de madeira ainda prosperava, sobretudo de mogno, árvore preciosa cuja exploração está restringida desde 1996.

As disputas eram violentas. Uma floresta de mognos no alto de uma montanha, onde Bião chegara com sua equipe e seus tratores, despertou a cobiça de um grupo competidor, cujo iminente ataque armado foi frustrado com uma emboscada na qual morreram mais de 20 adversários. Bião teve de fugir. “Minha cabeça valia cinco quilos de ouro”, explicou. Voltou a Altamira, atraído por seus filhos.

Já a vida de barqueiro, em um Xingu povoado de ilhotas submersas e quedas d’água ocultas nas cheias, também tem seus riscos. Há dois meses, Bião sentiu que o mundo “escurecia muito rapidamente”, quando um redemoinho o tragou juntamente com sua “voadora”, pequeno barco a motor que “voa” sobre as águas. Sobreviveu nadando mais de uma hora e ficando em cima de uma árvore por outras 11 em meio à correnteza.

É sobrevivente de um modo de vida que, como o Rio Xingu, se desfigurará com a construção da hidrelétrica de Belo Monte nos próximos cinco anos. As obras empregarão 18.700 trabalhadores e gerar 80 mil empregos indiretos, com uma previsão de que atrairão cerca de cem mil migrantes para municípios que não têm mais do que 150 mil habitantes. Além disso, por fim, a Transamazônica será asfaltada, rompendo um relativo isolamento do Médio Xingu.

Um empresário de Goiânia, capital do Estado de Goiás, 2.300 quilômetros ao sul por rodovia, começou, há pouco tempo, a comprar pescado em Altamira, que transporta em caminhão em quantidades de 600 a 800 quilos até sua cidade, segundo Gilvan de Almeida, que há 12 anos vende pescado na Feira do Produtor. Com asfalto, Altamira se integrará ao resto do país e, provavelmente, haja o desenvolvimento da pesca industrial no Xingu, afetando o abastecimento local e a abundância de peixes neste grande rio e em seus afluentes.

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