quarta-feira, 7 de março de 2012
Una-se aos fortes
Uma das coisas que eu sempre estranhei no Brasil é o fato de que ninguém reclama dos grandes empresários. Pelo jeito se esquecem de que tradicionalmente, os presidentes da república nunca são os que mais mandam neste país, já que todas as decisões deles nunca passam por cima dos interesses de grandes capitalistas, que aliás, falam de igual para igual ou até grosso com presidentes.
Essa noção errada de que o presidente é que decide tudo faz com que ele se torne o bode expiatório de todos os erros ocorridos em nosso cotidiano, o que é bom para esses grandes empresários, pois esses, os verdadeiros responsáveis, se livram da culpa e consequentemente tem o ódio que deveria ser direcionado a eles desviados aos políticos do poder executivo.
Esse ódio a presidentes e o não assumido, mas assiduamente adotado respeito pelos grandes empresários, tem favorecido o neoconservadorismo, surgido na forma de um novo direitismo, que trata os poderosos capitalistas como "meros trabalhadores como nós", "gente como a gente", num explícito desconhecimento dos bastidores do poder em nosso país.
Políticos são empresários, empresários também são políticos
O respeito que os poderosos capitalistas recebem da população brasileira em contraste com o ódio a políticos tem dois motivos: primeiro, enquanto os políticos usam o dinheiro pago pela população em impostos para seus privilégios pessoais, os empresários usam o dinheiro pago - também pela população - pela venda de produtos. O povo paga de qualquer maneira, mas como houve uma "troca", os abusos dos empresários não são reprováveis.
O outro motivo é a possibilidade de algum cidadão arrumar um emprego dado por algum poderoso magnata. Aliás, essa possibilidade tem feito com que muita gente tenha mudado de ideia e se tornado direitista, na esperança de que, com a afinidade ideológica, facilite a contratação para algum cargo. "Una-se aos fortes que será um deles", não é o que dizem?
Na verdade, o ódio a políticos e o respeito a grandes empresários soa contraditório. Eles se parecem muito e a sua semelhança vai muito além do fato de irem "trabalhar" (prefiro botar aspas neste verbo) de terno e gravata.
Os políticos que tem mais poder e são mais conhecidos por causa disso, são todos donos de algum meio de produção. São também empresários. E é dessa forma que eles mantem o seu poder. Os políticos que não são donos de nada se enfraquecem, perdem poder e somem a médio prazo.
Além disso, eu considero a atividade dos grandes empresários uma espécie de "política privada", pois eles são também políticos, agem como políticos, só que com o bem privado, do contrário que aqueles que consideramos como "políticos", que cuidam dos bens públicos.
Falta de informação favorece direitismo
E tradicional que empresários de grande porte mandem no executivo dos locais onde estão situados. Com o poderio financeiro que possuem, são capazes de trocar favores com políticos do executivo em troca de aprovações ou até de "desobediências limpas" às leis.
É infantil achar que o presidente decida tudo, até porque a nossa Constituição garante o caráter capitalista de nosso sistema político. Os empresários tem também vontades como todo mundo, mas tem em seu favor o poder financeiro, pois podem comprar tudo e pagar todos para obter em troca favorecimentos que mantenham a sua imensa renda e seu poder político de decisão sobre as leis.
Mas grande parte da população desconhece esse fato, embora os noticiários já deixem claro que não existe hierarquia quando o presidente se reúne com grandes empresários (ou se existe, só se os empresários estiverem acima). Para grande parte da população, os grandes empresários são "trabalhadores" como qualquer um e seu ganho vem do "suor" e de "muito sofrimento". Sinceramente não vejo sofrimento em distribuir ordens sentado numa confortável poltrona de uma bela sala com ar condicionado.
Heróis de si mesmos
Muitos grandes empresários, na tentativa de angariar simpatia da população (que poderia muito bem servir de "exército" de defesa quando necessário), lançam muitos livros dando dicas de sucesso e escrevendo biografias pomposas, muitas vezes com algumas mentiras.
Esses livros acabam criando uma imagem de "heróis de si mesmos", de alguém que supostamente sofre para garantir a sua sobrevivência , mas vai além. A população nem se importa pelo fato dos grandes empresários ganharem uma renda que deveria estar na mão do restante da população. A comoção com as supostas lições dos donos do poder faz com que população - certamente fazendo o papel de otária - ache justo que um PIB de algum país inteiro possa estar nas mãos de uma só pessoa.
E isso favorecerá um novo direitismo, que perpetuará o poder desses seres gananciosos que, com seu poder tem feito muitos estragos em nosso sistema, incluindo o fato de que a satisfação de seus supérfluos impede a aquisição do necessário pela população carente, que ultimamente tem sido enganada com as migalhas doces que caem em suas mãos, pensando que melhorarão de vida colocando consumismo no lugar das necessidades reais, algo friamente defendido pelos neoconservadores que se esforçam para construir uma nova direita que fará de tudo para que a humanidade nunca se evolua, se conformando com migalhas e paliativos.
Pois é esse atraso em nossa sociedade, com a manutenção de tradições duvidosas que tem garantido imensurável poder a esses "reis" que com esse privilégio, possuem as condições favoráveis para mandarem inclusive em presidentes, que agem feito gatinhos mansos perto dos poderosos donos da iniciativa privada.
Desse modo, nenhum país se desenvolve. Somente o poder e o conjunto de bens dos grandes empresários.
Texto extraído do blog : Pizzaria do Poder
http://pizzariadopoder.blogspot.com/search?updated-max=2012-02-10T10:48:00-02:00&max-results=15
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